terça-feira, 6 de novembro de 2007

As cidades e seus artistas




Acabo de voltar de férias. Foram 15 dias entre três das cidades mais encantadoras da Europa: Paris, Amsterdam e Berlin. A única que não conhecia até então era Berlin. Era, portanto, a que me enchia mais de curiosidade.

Uma das coisas que mais me encantam quando estou viajando fora do país é relacionar os lugares que passo com os artistas que ali nasceram ou produziram. É uma mania muito particular minha, que divido com o Marquinhos quase sempre, de procurar saber que artistas de verdade resumem com suas obras ao menos um dos lados da cidade. Depois, tento passar nos lugares que eles passaram, repetir caminhos que lhe eram rotineiros - acho que assim consigo captar um pouco de suas áureas!

Nem sempre são escritores, embora em sua maioria sim. Nem sempre são os óbvios, nem sempre estão citados nos guias de viagem. Enfim, eis o resumo de minhas férias, por esse ponto de vista:

Paris - Essa foi a segunda vez que fui à cidade que considero a mais charmosa do mundo. Na primeira, era muito claro: Cortázar representava a minha Paris. Mais precisamente, Cortázar de Amarelinha. Nunca mais na vida olhei para um clochard como antes depois desse livro. As Magas passavam diante de mim sem cessar na primeira vez. Mas Paris é enorme, são muitas e basta mudar o endereço do hotel para tudo parecer diferente. Tudo indica, dessa vez conheci a Paris de Hemingway. Fiz questão de ir até a Shakespeare & Co. (que será assunto de outro post) e me senti um pouco testemunha daquela festa. E também me senti na Paris de Proust, enquanto lia o No Caminho de Swann em algum café do bl. Hausmann. Foi incrível.

Amsterdam - Resolvemos repetir o roteiro que fizemos há cinco anos e incluimos Amsterdam, de última hora, na viagem. Fizemos o mesmo trajeto, pela mesma estrada, entre Paris e Amsterdam, dessa vez de dia, o que me fez perceber melhor as transformações que separam essas duas cidades. Parece que o quadro de Van Gogh vai sendo construído - até a luz muda. Van Gogh é, sem dúvida, uma incrível representação de Amsterdam, mas como ele próprio, eu também me rendi (mais uma vez) a Rembrandt. Eu me senti o próprio Rembrandt um sem número de vezes paralisada diante da vida alheia dessa nova burquesia holandesa, que assim como seus antepassados, gosta de não ter nada a esconder. Show para os olhos. Quadros vivos. Mas não posso esquecer, a viagem não seria tão encantadora sem a melhor descoberta das férias: um maravilhoso pequeno hotel, perto da casa da Anne Frank, numa rua residencial cortada por um majestoso canalzinho. Nosso quarto tinha vista para o canal, podíamos ouvir os patos nadando e os sinos de uma igreja ali de perto. Encantador. Quis morar naquele quarto.


Berlin - De início, achei a cidade feia. Depois, fui entendendo suas sutilezas e, um dia antes de minha partida, chamava-a de linda! - o que me deixa ainda mais segura para enxergá-la em Günter Grass, prêmio Nobel de Literatura em 1999. Berlin é contraditória como o autor, ainda marcado em minha memória por recentemente ter assumido seu passado nazista (disse, ele próprio, ter integrado a Waffen-SS, tropa de elite nazista atuante no Holocausto). Rara e apaixonante. Nunca um amor à primeira vista, sem obviedades. Os alemães se esforçam mesmo para serem gentis, e chegam a ser muitíssimas vezes. Quero voltar lá, de preferência no verão. De certa forma, a melancolia do outono em Berlin me contaminou. Mais tarde escreverei mais sobre o que pude enxergar nos olhares de Berlin.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

O Major Façanha, de Maximiano Campos

Faltavam algumas horas no Recife antes do vôo e resolvi me esconder do sol no quarto que chamo de meu quando estou na casa de meus pais. De início, fiquei na rede lendo os outros contos vencedores do Prêmio Maximiano Campos até, de frente para a estante, me dar conta de alguns livros empilhados. Resolvi verificar o que tinha, acabei trazendo algumas relíquias saborosas como O Quinze; Morte e Vida Severina (uma edição de 1989 que usei muito durante a faculdade) e, vejam só, um livro de Maximiano Campos, chamado O Major Façanha.

Encontrar esse exemplar ali perdido foi mais que uma coincidência - minha mãe me contou que meu pai ganhou esse e outros livros de um velho do bairro, que resolveu presentear alguns amigos com exemplares de sua biblioteca, antes de morrer.Pena que o nome assinado na contracapa, não posso entender. E eu jamais tinha lido uma frase desse escritor pernambucano.

Foram três horas de vôo direto, um luxo que se deve aproveitar bem. Meu tempo usei lendo O Major Façanha (Recife: Bagaço, 1994, 126 pag.). O livro narra a história de um senhor de engenho falido, que troca a propriedade rural por algumas casas cujo aluguel lhe garantem o sustento e um lugar para morar na frente da praia, em Candeias. Ali, o velho de postura soberba entra em conflito com um grupo de jovens endinheirados e seus pais - novos ricos que ocupam o lugar, nessa nova sociedade, que um dia já foi dos senhores de engenho da zona da mata pernambucana.

É do choque social (e aqui não estamos falando de pobres versus ricos, mas de velha burguesia e nova burguesia) que se alimenta a narrativa de Maximiano. Sua escrita não chega a trazer inovações técnicas e, em alguns momentos, peca pela repetição de palavras. A riqueza da narrativa está no registro social de uma época, na perspicácia de Maximiano em fazer o leitor se sentir um ouvinte, e na aparente inocência do narrador – um velho contador de história. O final do livro é belíssimo – e tem cheiro de mar.

O que é esse blog?

A idéia vem desde o início do mestrado.
Queria um espaço onde pudesse publicar livremente minhas críticas particulares, a princípio dos livros que leio, mas logo ampliado a tudo que me cerca. A idéia ganhou ainda mais forma depois que passei a ser abordada por amigos sobre leitura. Talvez pela curiosidade natural que cerca um estudante de literatura, não são poucos os que me perguntam o que ando lendo. Taí, agora será público.
Ainda prefiro escrever a falar. Assim, nada melhor que criar eu mesma um lugar onde publicar resenhas, ensaios de ensaios, palpites, ironias afiadas. A partir de hoje, tudo que eu ler ou ver (desde que me impressione, para o bem ou para o mal, claro) ganhará algumas linhas por aqui. Quem quiser, me acompanhe. Adorarei ler comentários e, claro, saber sobre a leitura dos outros. Quem sabe aqui não nasce um espaço para todos?