segunda-feira, 18 de agosto de 2008

A vida por um pêlo... de gato


A dica de leitura da semana é “Amor em Minúscula”, do espanhol Francesc Miralles. Trata-se de um livrinho gostoso sobre como uma vida pode ser profundamente afetada quando nos deixamos levar pelas circunstâncias. Neste caso, o autor fala do encontro de um professor de filologia alemã entediado em sua meia-idade com um serelepe gatinho. Coisa meiga, mas também repleta de pontos de reflexão.

Para mim, esse livro agradou em especial pelo tour por Barcelona que o autor nos permite fazer mentalmente. Não é um livro de viagem, mas as longas caminhadas do narrador pela cidade são descritas com muitos detalhes – um presente para quem é apaixonada pela Catalunha como eu e repetiu aqueles percursos descritos um tanto de vezes. Se perder em Barcelona era nosso (meu e do Marquinhos) passa-tempo preferido no um ano e meio que habitamos o Eixample Derecho. Embora, pelo tamanho da cidade, depois de alguns meses já não dava para se perder, assim, literalmente.

Enfim, dedico essa resenha a alguns queridos e suas doces relações com gatos:
- Corina: por causa dela, me apaixonei por gatos. Ela morava num apartamento em BCN com um taiwanês chamado Pei que tinha um gato gordo, peludo, parecia um leão. Pois bem, numa festa, esse gato deu uma volta na sala cheia de gente, cheirando pé por pé, até parar na minha frente e, sem nenhuma cerimônia, subir no meu colo. Arrematou meu coração e deixou a Corina vermelha de ciúmes! Ainda hoje admiro profundamente os gatos, embora não tenha vontade de criá-los. Para ter, ainda gosto mais de cachorro!
- Txell, e sua gata bolota que já foi a mais perigosa bichana de DF, México. Vai encarar? Aliás, no livro tem uma personagem que chama Meritxell.
- Erika, a encantadora de gatos, que conseguiu quebrar o gelo do coração do Serginho e fazê-lo se apaixonar não por um, mas por três gatinhos fofos.
- Lets, que é apaixonada pelo layout dos gatos. Tem inúmeros gatinhos desenhados, pintados, moldados, mas nenhum em carne e pêlos.
- Nigro, que espirra sem parar quando chega perto de um... Tão bonitinho!

- Marquinhos, que odiava gatos, ou dizia que odiava, mas parecia tanto com um...

Leiam com seus próprios olhos:


Alegria X morte

Ontem ouvi um filósofo falar na TV sobre "alegria X morte". Ele explicava a relação possível entre as duas coisas e como tirar uma da outra. Partia da leitura de Spinoza quando dizia que para ser alegre é preciso um tanto de loucura. Não a loucura psiquiátrica o que, nesse caso, pode-se tomar como exemplo a atitude insana de agir como se a morte não existisse, e continuar contando com a presença física da pessoa que se foi. Essa loucura faz mal e exige tratamento.

O tal filósofo falava da loucura filosófica, a que consiste em admitir os devaneios como parte da existência. Enfim, aceitar outra forma de existência possível, que não a da matéria. Lembrei de quando inaugurei esse blog anunciando minha proposta de vida pela ficção. O real e a invenção como partes da mesma coisa, dessa coisa que chamamos vida.

Há técnicas para driblar o sofrimento e encontrar alegria na morte. Uma delas consiste em, ao invés de cultuar a ausência, a partida, brindar a memória. Substituir a lamentação dolorosa (e aqui lembro muito do Marquinhos, que rechaçava toda e qualquer lamentação!) pela esperança da continuação. O encanto pelo que fica (de aprendizado, de exemplo, de energia) e não pelo que se perde.

Penso em tudo isso justamente quando se completam quatro meses da morte repentina e dolorosa (para nós que ficamos) do Marquinhos. E concluo que fiz minha escolha: quero a alegria de cultuar a memória, não o sofrimento de contar o que perdi. Marquinhos me deu muitas coisas, infinitas, irrepreensíveis, e são essas coisas que me interessam!

p.s.: no sábado, dia 09/08, nasceu a Laís, filha do Nuno e da Adri. Nesse sábado, dia 16/08 (no mesmo dia da Madonna e do eclipse da lua), nasceu Vicente, da Ju e do Rodrigo. Algo me diz, essa semana nasce a Julia, minha e do Marquinhos. E assim a vida se renova, sem lamentações, com alegria e um pouco de loucura, porque ninguém é de ferro.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Hedonismo literário

Uma vez o Marquinhos me disse, no meio de um de nossos intermináveis debates sobre arte, que eu precisa valorizar mais os livros despretensiosos. Acho que naquele dia ele citou alguém, não lembro quem, que disse dias antes numa entrevista que faltavam escritores leves, que não buscam lançar uma obra-prima, nem repetir a fórmula dos clássicos. Que escrevem para divertir, para aliviar as tensões ou só porque não há outra alternativa que não escrever. E lançam, assim, livros sem peso, do tipo que devoramos numa sentada e que podem até ser esquecidos na semana seguinte, mas que proporcionam momentos agradáveis no presente. Hedonismo literário - fiquei com isso na cabeça.

Durante os anos de mestrado, impossível experimentar esse tipo de leitura. Mas agora que estou lendo muitos lançamentos tento buscar esses livros leves. É nessa esfera que vem a dica da semana: "Ler, Viver e Amar em Los Angeles", estréia das americanas Jennifer Kaufman e Karen Mack. É um livro sobre uma leitora, um tema tão antigo quanto o próprio romance moderno e que sempre dá jogo. Li rapidinho (300 páginas em duas noites!) e curti.

Go, go, go:
http://diversao.uol.com.br/ultnot/livros/resenhas/2008/08/04/ult5668u46.jhtm

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Contas

(Desenho da espanhola Elena Odriozola)

Hoje, 36 semanas de Julia + eu.
Hoje, 15 semanas de eu - Marquinhos.
Essa conta não fecha. Ou fecha?