sábado, 9 de janeiro de 2010

Caim na praia

Leitura e resenha de “Caim”, de José Saramago (Companhia das Letras), coincidiram com um momento importante da minha vida: quando entendi que dá pra ser mística sem ser religiosa. E que toda religião que eu conheço, algumas por ter frequentado lá num passado distante, são muitíssimo chatas. Então, veja bem, não haveria momento mais propício para uma nova interpretação bíblica do distinto ateu de nascença Saramago. Mais um livro dele que eu li rindo. Às vezes até rindo alto. E ainda por cima li defronte o mar de Cupe. Alguém ainda vai perguntar se o livro é bom?

A parte que destaco (e que não entrou na resenha do UOL) é a da sequencia de definições e descrições da mulher, logo no começo do livro, tendo Eva como objeto de análise. Estamos no Jardim do Éden, onde a perfeição se mostra monótona demais para pensantes. Ali, a primeira mulher da humanidade é rebelde, responde ao marido e se surpreende com sua liberdade. “Era como se dentro de si habitasse uma outra mulher, com nula dependência do senhor ou de um esposo por ele designado”.

Outra frase que eu adoro é quando ele tenta descrever a chatice que é o céu onde “também se sorria muito, mas sempre seraficamente e com uma ligeira expressão de contrariedade, como quem pede desculpa por estar contente.”

E há vários diálogos incríveis sobre a onipresença (e importância) de Deus. Caim está em pé de guerra com o todo poderoso e não economiza ironia em seus comentários. Exemplo: “A história dos homens é a história dos seus desentendimentos com deus, nem ele nos entende a nós, nem nós o entendemos a ele.”

Pena que não é todo mundo que gosta. Soube que o UOL recebeu comentários ácidos sobre meu texto e o do Saramago. '-)

A resenha:
http://entretenimento.uol.com.br/ultnot/livros/resenhas/2010/01/03/ult5668u131.jhtm

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Clarice e Saramago

Dois livros me deram um prazer danado no final de 2009. Foram minhas resenhas de dezembro no UOL: "Clarice," (leia Clarice vírgula), de Benjamin Moser (Cosac Naify), e "Caim", de Saramago (Companhia das Letras). Dois livros incríveis que entraram na lista de preferidos do ano, sem pensar duas vezes.

De "Caim", prometo escrever em breve minhas impressões pessoais (grande livro!). Mas de "Clarice,", não me contive e relacionei alguns pontos da vida e personalidade da minha grande musa inspiradora com os quais, digamos assim, me identifico. Aliás, li esse livro (pesquisa incrível, texto muito bom!) procurando o que dela era meu, e o que meu era dela. Coisa de fã. Enfim, vamos aos pontos:

1. Ela disse: "se pudesse ter escolhido queria ter nascido cavalo"

2. "É que sou mística", disse Clarice a um entrevistador. "Não tenho religião, porque não gosto de liturgia"

3. "Se eu tivesse que dar um título a minha vida ele seria: à procura da própria coisa"

4. "Em Recife os mocambos foram a primeira verdade para mim. Muito antes de sentir 'arte', senti a beleza profunda da luta"

5. A última vez que Clarice esteve no Recife foi em 1975, ano em que nasci - tá bom, agora eu forcei! Coisa de fã, eu avisei. :D