sábado, 17 de abril de 2010

II surround system


Eu escrevo você - E escrevo com trema, porque você é drama, ainda que démodé, ou que nem exista - Escrevo você com poucos adjetivos, porque você é discreto - Não evito clichês, como o poeta. Ao contrário, os inveto cem vezes e você os reiventa outras cem - Escrevo você criando relações entre muito distantes, porque você é incoerência, você é metáfora.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Sobre a gente

Li esse livro me vendo nele, e rindo disso, porque pareço ridícula em todos os trechos em que me vi. Também enxerguei alguns colegas da literatura, algumas figuras do mundo acadêmico, outros que não conheço pessoalmente, mas sei exatamente quem são.

Sérgio Rodrigues, jornalista, crítico literário e blogueiro, escreve muito bem. Estabelece deliciosas relações entre o mundo dos leitores. São contos, mas também são críticas. E tudo é muito engraçado, de um humor desconcertante, principalmente se você, como eu, se sente parte da história.

Resenha no UOL:

http://entretenimento.uol.com.br/ultnot/livros/resenhas/sobrescritos-consegue-unir-critica-literaria-otimo-exercicio-narrativo-e-mundo-pop.jhtm

terça-feira, 6 de abril de 2010

Notas sobre Nietzsche X Heidegger

(Imagem do blog cabecasafora.blogspot.com)

Mês passado fiz um curso cabeçudo na Livraria da Vila: Nietzsche versus Heidegger, com a professora Regina Schöpke. Eram três aulas. Um respiro legal na vida corrida que teria sido perfeito se eu não tivesse esquecido de ir na última aula, só lembrando meia hora depois que ela já tinha terminado. Ridículo. Sei.

Enfim, de lá queria dividir uma conversa muito legal que tivemos (eu calada, claro) sobre dois modelos de organização do mundo muito diferentes, que até podem se cruzar, mas jamais se unem: o nômade e o sedentário.

No primeiro, o homem se constitui para ser nômade. Migra em nome de melhores condições e é aterrorizado pelas forças da natureza. Prefere fugir a enfrentá-las. Já o homem sedentarizado prefere a proteção do Estado, mesmo que isso signifique (e significa) abrir mão da liberdade. O sagrado e a religião têm suas bases no mundo sedentário.

O mundo sedentário é o de contenção de fluxos. Nada de paixões. Nada de instintos. Por isso, o medo da diferença e a aceitação da vigilância (não é só proteção, a gente sabe) do Estado. Sócrates é o marco desse pensamento. “A própria filosofia surgiu como requinte do mundo sedentário, mas com bases e aspirações nômades”, explica Regina. “A filosofia é uma arma de guerra nômade.”

Nos dois mundos, o homem teme o acaso. A diferença é que o nômade o afirma, enquanto o sedentário o nega. O homem sedentário se ocupa em antecipar o presente, e sofre pelo porvir. O nômade não perde a noção do presente. “Viver intensamente é viver perigosamente”, escreveu Nietzsche, o mesmo que diz que “o homem é um animal que adoeceu”.

Tentar ser um sendo o outro é o começo do fim. E isso, ao menos para mim, explica muita coisa ai fora.