segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Fora de nós 3


Ler é um ato solitário. É preciso se distanciar da realidade, o que inclui as pessoas, para tirar proveito do grande barato da leitura: a liberdade de construir as próprias imagens, de interpretar por sua conta. Tudo isso é bom, mas preciso admitir que muitas vezes, no meio de um trecho apaixonante, sinto falta de alguém do meu lado sentindo o mesmo, como quem assiste junto a um filme. Faz falta olhar para o lado e repartir, nem que seja com um olhar.

Na semana passada, consegui até mais que isso. Primeiro a Beta, uma amiga top five, comprou o livro que eu estava lendo: “Fora de Mim”, de Martha Medeiros (editora Objetiva). Surpresas ficamos as duas quando outra querida, a Bianca, disse que tinha começado a ler o mesmo livro na noite anterior. Foram dois ou três dias em que nossos encontros no trabalho começavam com a frase: “e ai, leu até que página?”.

Senti como se fizesse parte dos antigos e meio fora de moda clubes de leitura, dividindo as impressões. Acertamos na escolha do título: um livro sensível, tomado de referências ao universo feminino. Para mim, a autora monta um delicado mosaico do amor, pelo ponto de vista de uma personagem encantadora, que traz pedaços de muitas mulheres (meu, da Beta e da Bi, com certeza).

Foi tão doce essa experiência que pedi para cada uma delas escrever 500 toques que fosse sobre o livro. A resenha “oficial” está no UOL (link abaixo). Aqui, apenas umas palavras de três mulheres que conhecem o amor.

Por Marta
A personagem de Martha Medeiros confidencia o desejo de viver apaixonada dos 14 aos 89 anos. Deseja, acima de tudo, que a vida seja intensa, lhe surpreenda, lhe tire da lógica um milhão de vezes, e nunca lhe obrigue viver uma relação sem paixão. Quer a intensidade do frio na barriga, da espera torturante por uma ligação, da alegria infantil de se sentir desejada. “O amor é uma subversão, e seu vigor nunca será encontrado em amizades ou parentescos”, escreve a mulher, para logo concluir: “Amar prescinde de entendimento. Por isso não sei amar, porque sou viciada em entender”.

Por Beta
pathwork de amores comuns. para iniciantes, iniciados ou viciados. características corriqueiras bem construídas ativam a memória do leitor. é gostoso, leve. a todo momento me lembrei de alguém. me apaixonei por todos, que bom. e dividi meus dias assim: de segunda a quarta, fora de mim. durante o resto da semana, o que será que me dá?
http://www.youtube.com/watch?v=Fy8LsPj0Nw8

Por Bianca
Quem nunca esteve fora de si? Quem nunca chorou por um amor perdido? Eu já. Aos meu vinte e poucos anos devo dizer que já gastei alguns litros de lágrimas com alguém que passou pela porta de minha casa e nunca mais voltou. Mais que isso, solucei, tremi, dormi, me desesperei achando que aquela dor nunca iria passar. E, esperei que ele voltasse por alguns longos meses. Quem já leu “Fora de Mim” - de Martha Medeiros – deve estar achando que meu relato é um plágio de parte da obra. Mas não. Eu me vi no lugar da personagem por alguns momentos. E posso afirmar que leitora alguma passará ilesa sem comparar a história do livro (ou parte dela) com algum episódio de sua vida. A personagem (com seus mais de 40 anos) sofre por ter perdido um amor avassalador, que sequer a fez sorrir ou ter paz. Mas, para ela que acabara de sair de um relacionamento pacato que durou 16 anos, viver intensamente era o mais importante. Tanto que, ela foge de compromissos pelos quais já vivenciou enquanto foi casada. Ela não quer se prender. Não quer chegar em casa e se deparar com um homem no sofá esperando que ela sirva o jantar. Definitivamente, ela quer amar, se envolver, se entregar. Não para um homem, mas para sua própria vida. Quer viver pela primeira vez, mesmo que custem algumas lágrimas.


No UOL: http://entretenimento.uol.com.br/ultnot/livros/resenhas/em-fora-de-mim-martha-medeiros-desbrava-fossa-de-mulher-que-perde-grande-amor.jhtm